Barely There - Matias Romano Aleman
10 Set - 1 Out 2021
O tempo devorou o espaço entre o que tu sentiste e o que tu pensaste.
Quantas vezes descobriste que o murmúrio constante que ouves quando a noite cai não é mais do que a cidade a molhar-te a orelha? A escuridão do tecto cobriu as tuas tediosas pupilas. Confundindo-se com as gotas de chuva que começavam a cair, os passos dos peões e as memórias batiam e saltavam contra a parede de escuridão no fundo da tua mente. Salpicando na poça escura da insónia, entre o conhecimento e a memória, cobriste os teus pés descalços com uma lama espessa que lubrificava os teus passos cegos sem prazer.
Havia uma sombra para além de ti a esguichar leite preto da tua cabeça irreflectida. Afastaste-te e ela permaneceu. Atravessaste outra sala e sentiste-te mais confortável contigo próprio. Havia completa escuridão entre ti e o teu próximo pensamento. As sombras viajam? Não há lá ninguém, julgavas tu, só há sombras. Caminhaste até à cozinha, viraste a luz e encheste de novo o teu copo convencendo-te de que os sons resmungões da tua mente só lá estavam porque não estavas a fazer nada para os impedir. "Pensas como as canções pensam!" gritaste e desligaste a luz. A rua ainda estava apinhada.
Mais uma vez, vagueando pelas grutas aquáticas do passado, a sala tingida de verde, rosa, depois laranja quando, finalmente, os teus olhos derrotados deixaram cair imagens nubladas, entrando numa sonolência tardia, cobrindo-te com um cobertor de sonhos.
Matias Romano Aleman