Afável lar que escondes o que tenho para contar - Marta Arcanjo
16 Jul - 6 Ago 2021
“Afável Lar, que escondes o que tenho para contar”, apresenta-se como uma típica casa portuguesa, apenhada de signos tradicionais e diversos ornamentos decorativos. Actua-se, desta forma, por uma falsear das aparências, onde prima a inutilidade e consequente disfunção.
Numa afincada tentativa de aludir ao contexto “Lar”, denota-se um traço de rebelião, de abalo da norma e convenção, pelo introduzir de um novo compartimento, onde prima a distopia e o sonho - um certo discurso alegórico prático e visual. Nele, surge a vontade de congelar um momento de pleno contacto entre a superfície do corpo e materialidade do objecto. Procurando fundir a organicidade de ambos, actuando num único contexto imagético.
A partir deste aforismo, apresenta-se um universo onde a mulher assume a sua nudez e se entrega à vulnerabilidade de procurar uma forma de prazer, de toque, de sedução, de contacto, nos objectos mundanos do labor doméstico. Aliando os mecanismo do lar à manutenção do corpo e actuando através de um desejo oculto, que se completa na exploração do artifício.
Aludindo-se desta forma, a duas realidades aparentemente distintas, o conforto (desconforto) do lar, e o subconsciente aqui retratado em jeito de devaneio. Marcado por um gesto de carácter desviante, que por sua vez materializa a dor, a solidão, mas também a ironia na procura incessante pelo corpo ideal.
Deambulando entre o hilário e o erótico, eis uma desconstrução dos trâmites da atração e do próprio erotismo. Aliados à subversão do espaço que acolhe a “obra de arte”.
Marta Arcanjo