Ivan Da Silva e Carlos Trancoso trazem resíduos de interstícios sociais, de caracterização nômade no espaço-tempo. As evidências nos remetem a um passado de um grupo sem nome, idade ou história catalogada. Revelar os vestígios encontrados permite-nos projetar o que fizeram, perceber os sinais por onde passaram. O que socialmente se tornou lixo, ao ser coletado e ressignificado, se torna fragmento que

exprime a fluidez do tempo, dos corpos sociais e intersticiais, bem como da desterritorialização que acontece dentro das Juntas Secas que compõem a cidade.


O mapa à escala real é o território de exploração artístico-arqueológica para Ivan e Carlos. Aquilo que é descartado nos interstícios de uma sociedade estruturada, ao ser reintroduzido simbolicamente dentro de um território artístico, se torna vestígio. Assim como o registro fotográfico, o lixo cumpre uma relação com o passado. Aqui este é ressignificado para preencher as Juntas Secas, através de um movimento de desterritorialização para reterritorialização, assente metaforicamente nos muros de pedra, transitório e sujeito às ações externas e pressões internas dos blocos.


Os espaços se expandem, se espremem, e conforme o meio condicionam os blocos vizinhos. Marcados com as ações do tempo, do descarte, do acumular das suas camadas ressignificadas pela ação político-social e da natureza, os interstícios não são delimitados e estão em movimento constante, Registros que um dia significaram algo para alguém, que se tornou lixo, e que hoje reterritorializa-se como vestígio de um grupo social do qual podemos ler um fragmento de história.


Camila Giusti Tisott